Em todos os meus anos de experiência como obstetra, nunca atendi uma paciente que se recusasse a dar de mamar. Pelo contrário, todas esperam por isso. Na minha primeira gestação, tinha certeza de que iria amamentar por dois anos. Comprei bombinha, frascos para armazenar o leite e fiz todo um plano para o retorno ao trabalho.
Eis que a bolsa se rompeu antes da hora. Marina nasceu com 34 semanas e ficou na UTI. Lá, precisou receber complemento com fórmula láctea. Mesmo assim, eu me esforçava para ela não perder nenhuma mamada e, na minha inexperiência de recém-mãe, achava que ela sugava o peito.
Tivemos alta. Por mais que eu insistisse nas mamadas, ela não ganhava peso e fui orientada pela pediatra a complementar a alimentação novamente. Esterilizava as mamadeiras e chorava. Consegui amamentar somente até os 2 meses, apesar das orientações de uma especialista em amamentação e das horas que dedicava a ordenhar coma bombinha. Minha filha não se empenhava em sugar.
Posso resumir tudo em uma palavra? Frustração. Em outra? Culpa. Fiquei tão mal que não
podia ver outras mães dando o peito. E todos perguntavam: “Está amamentando?”
Sofri muito, e quando engravidei de novo, fiquei ansiosa. Será que tudo iria se repetir? Victor nasceu no tempo certo, pegou o peito de primeira e mamou até os 8 meses! Algumas palavras? Vitória, satisfação, simbiose, orgulho!
A minha história reflete um pouco das dificuldades que podem surgir no aleitamento. As fissuras nos mamilos são outro problema frequente, que causa muita dor no início do processo. Não há uma fórmula mágica para evitar os percalços, mas a posição correta do bebê é a principal forma de prevenção. Por isso, estude sobre amamentação na gravidez e peça para as enfermeiras e o médico observarem nas primeiras mamadas. Não saia da maternidade com dúvidas. Para saber se a quantidade de leite é suficiente, um bom parâmetro é o intervalo entre as mamadas. Se o bebê fica entre duas horas e meia e três horas sem reclamar é porque está satisfeito. Se chora muito e não tem cólica, pode ser que a sua produção não esteja adequada.
Podemos recorrer a alguns truques para aumentar a fabricação, como estimular a lactação com a bombinha, beber mais água ou lançar mão de medicamentos (com orientação médica). Mas o emocional também conta–e muito! A glândula hipófise, responsável pela secreção do hormônio do leite – a prolactina – fica localizada próximo à região que controla as emoções no cérebro. Por isso, ficar tranquila é essencial. Mas não é tão simples, né? Temos problemas, inseguranças, fragilidades e sono, muito sono! Sem falar no drama da volta ao trabalho…
Se algo acontecer e você tiver que suplementar, saiba que o bebê ficará bem e que você não será menos mãe. Porque no fundo o que vale é a interação, o contato, o carinho, o olhar para o seu bebê. Pode faltar leite, mas amor tenho certeza que você tem de sobra!
*Este texto faz parte da Coluna Confissão de Mãe da edição 237 (Agosto, 2013) da Revista CRESCER