GRAVIDEZ SEM PALPITES: Como lidar com os “conselheiros” durante a gestação
É praticamente impossível passar pelos nove meses sem ouvir todo tipo de opinião. Por isso, CRESCER criou a série #gravidezsempalpites, para ajudar você a aproveitar só o melhor ao longo da gestação – Esta é a primeira reportagem de uma série sobre como lidar com os inúmeros palpites que surgem quando as mulheres descobrem que estão esperando um bebê
Palpiteiros existem em qualquer momento da nossa vida. Mas parece que eles se multiplicam com a notícia de que há um bebê a caminho. Como não bastasse aquele monte de dúvidas na sua cabeça, vira e mexe você vai ouvir casos de abortos ou complicações na hora do parto, vai sentir olhares fuziladores dependendo do que estiver colocando em seu prato no buffet do restaurante, vai receber sugestões de nomes supostamente melhores do que aquele que escolheu ou conselhos para lá de animadores sobre nunca mais dormir ou conseguir jantar em paz com o marido. Parece que todos se sentem à vontade para se intrometer na vida da gestante, não? E tem explicação!
A gravidez desperta interesse, curiosidade naquele ser que está se formando e todos adoram falar, até quem não tem experiência alguma com a maternidade. “Grávida sempre é assunto. Mas existe muita falta de noção, pois as pessoas têm mania de contar histórias trágicas, dizer que passou a hora de o bebê nascer, que não vai conseguir amamentar. Isso irrita até os médicos, pois as gestantes chegam estressadas ao consultório. Dizem, por exemplo: ‘Fui ao mercado hoje e disseram que minha barriga está muito baixa, será que vai nascer antes da hora?’. Tudo bem que a gravidez envolve a família, todos ficam ansiosos pela chegada do bebê, mas vira um falatório”, diz a ginecologista, obstetra e sexóloga Carolina Ambrogini, colunista da CRESCER.
Outra questão que leva aos palpites é a necessidade de o ser humano mostrar que sabe e, muitas vezes, mais que o outro. “As pessoas querem ensinar, dizer o que é melhor, sem saber se aquela pessoa quer ouvir ou não. Acabam invadindo a privacidade para exibir conhecimento. É o famoso ‘eu sei, já passei por isso’”, diz a psicoterapeuta familiar Teresa Bonumá. Por isso, você acaba ouvindo conselhos de todos os lados: em casa, no trabalho, no bar, na academia ou no metrô. Segundo enquete realizada no site CRESCER, a campeã da intromissão é a sogra, com 33% dos palpites, seguida de perto por outras pessoas da família, com 24%. As amigas vêm em terceiro lugar (16%), depois a mãe (15%) e, finalmente, desconhecidos na rua (12%). Nada fácil, não?
PENEIRA NELES!
Conseguir filtrar os palpites é a melhor forma de manter o mínimo de sanidade mental em meio ao turbilhão de emoções que a gravidez por si só já provoca. Por isso, para Teresa, “é preciso colocar um para-raios para ignorar. Não tem que se estressar, mas, sim, ouvir apenas aquelas pessoas que falam para o bem”.
Claro que não é simples, mas muitas mulheres já vêm conseguindo fazer isso, como mostrou outra enquete da CRESCER, que perguntava às leitoras como reagiam aos conselhos na gravidez: 57% disseram filtrar o que pode ser útil e deixar o resto passar e 22% afirmaram não ligar.
A fotógrafa Ligia Bazotti, 31, faz parte dessa estatística. Mãe de Olívia, 3 anos, e Bernardo, 1, ela lembra que, na primeira gestação, ouviu muito sobre o que deveria comprar no enxoval e, na segunda, diziam que ela não deveria pegar a filha mais velha no colo, mesmo com o médico dela dizendo que não havia problema. “O que aprendi na gravidez e depois que meus filhos nasceram é que os palpites chegam a todo momento, mas abstraio o que não acho legal e pego para mim o que pode ser útil. Não discuto, não fico brava, simplesmente escuto e só absorvo o que quero”, diz. Para a psicóloga Mariana Bonsaver, da Maternidade Pró Matre Paulista (SP), procurar relevar é mesmo o melhor caminho, sempre que possível, pois, de certa forma, os conselheiros não têm a intenção de prejudicar a grávida. “Geralmente, as pessoas dão palpites de acordo com as experiências que tiveram e que, muitas vezes, deram certo, passando a ser para elas ‘a melhor coisa a ser feita’. Além disso, é uma forma de se sentirem participando e sendo úteis nesse momento”, pondera.
Infelizmente, nem todas as mulheres conseguem manter a calma de Ligia – 18% das leitoras disseram se incomodar demais, a ponto de querer responder de maneira atravessada, e 3% chegaram a entrar em pânico com determinado comentário. A professora Simone Cristina da Silva, 45, mãe de Ana Luisa, 5 anos, lembra que a família era tão invasiva que comprou roupas de cores que ela não gostava e até um carrinho de bebê sem consultá-la. No trabalho, era a mesma coisa: opinavam desde sobre o que ela comia até a quantidade de fraldas que deveria ter em estoque. Quando se irritava, Simone ainda tinha que ouvir: “Você está prejudicando sua filha com todo esse estresse”. “Uma vez cheguei a implorar por nenhum palpite, e a pessoa veio com a pérola ‘deixa eu dar uma dica…’. Todos se acham experts em gravidez! Desde então, ao avistar uma grávida, me dá até pena!”, desabafa.
A publicação acima foi escrita por Fernanda Montano e originalmente postada na Revista Crescer em 08/05/2017.