A dificuldade ou ausência de orgasmos entre as pessoas com vulva é tema de estudos acadêmicos, minisséries em plataformas de streaming, discussões nas redes sociais… Se até o final do século XIX a anorgasmia era desejável para uma mulher “decente”, hoje atendo pacientes frustradas por alcançar o clímax “apenas” uma vez em cada relação sexual. O orgasmo feminino se transformou em uma meta obrigatória (e múltipla!), ao invés de consequência natural da troca prazerosa entre duas pessoas. Vamos entender melhor sobre a duração, as sensações corporais e a fisiologia desse evento tão buscado?
O orgasmo feminino é uma experiência física e psicológica que dura entre 3 e 10 segundos, mas proporciona uma grande satisfação tanto para o corpo quanto para a mente. Ele é decorrência de um estado crescente de excitação sexual: chega-se a uma tensão tão intensa que o organismo detona um reflexo de alívio. Do ponto de vista biológico, um pouco antes do orgasmo, a tensão muscular e o fluxo sanguíneo nos genitais atingem o seu auge. Então surgem os espasmos, as contrações musculares involuntárias.
Não à toa as descrições sobre a sensação orgástica incluem a ideia de atingir um pico de tensão, seguido de uma liberação de energia prazerosa, contrações da região genital e um relaxamento do corpo inteiro. No cérebro, o orgasmo libera substâncias como prolactina, ocitocina, vasopressina e o peptídeo intestinal vasoativo. Enquanto ele está acontecendo, há uma diminuição na atividade de várias áreas cerebrais (principalmente no córtex), assim como das percepções auditiva e visual para que você sinta o prazer de forma plena.
Mas não podemos generalizar demais: cada pessoa experimenta o orgasmo de forma muito subjetiva. Há quem vá às lágrimas, se conecte com a espiritualidade, tenha vontade de gritar ou rir… Além disso, a mesma pessoa pode ter orgasmos de diferentes intensidades e durações dependendo da circunstância. Estudos apontam que uma mulher cis costuma levar entre 10 e 20 minutos para alcançar o clímax durante o sexo. Esse tempo pode ser bem menor se ela estiver suficientemente excitada ou focada apenas na masturbação: até 4 minutos.
Pioneiros no estudo da sexualidade humana, os pesquisadores William Masters e Virginia Johnson indicaram o clitóris como “o principal interruptor” do orgasmo nas pessoas com vulva. A vagina teria um papel menor na facilitação do clímax – ou seja, não há nada de errado em não chegar lá por meio da penetração vaginal! O assunto ainda é controverso na comunidade científica, portanto fica a dica: explore essas duas fontes de estimulação e descubra o que funciona melhor para você. E não se compare nem se pressione em relação a algo que deve ser sinônimo de bem-estar!
O significado sociocultural do orgasmo feminino mudou bastante ao longo dos séculos. A sexualidade da mulher cis era restrita à função reprodutiva – ela não deveria ter desejos sexuais, muito menos prazer orgástico. Aquelas que exibiam comportamento mais livre eram consideradas ninfomaníacas ou portadoras de perversões. A partir do século XX, houve uma reformulação de seu papel em sociedade, seja com a entrada no mercado de trabalho formal ou com o surgimento da pílula anticoncepcional.
O medicamento abriu a possibilidade de sexo recreativo e sem a preocupação de uma gravidez indesejada. Hoje ter orgasmos não é só algo desejável como também considerado essencial para uma vida sexual de qualidade. Pessoas com vulva que não chegam ao clímax na relação sexual ou na masturbação é que têm vergonha e medo de serem tidas como “anormais”. Se elas soubessem como, infelizmente, partilham do mesmo segredo de milhões… E a chave para o prazer está nas próprias mãos.
*Se você estiver passando por dificuldades em sua vida sexual, procure profissionais com qualificação e especialização na área