Uma pequena empresa de Bristol (Reino Unido) chamada Coexist passa a adotar, a partir deste mês, uma licença-menstruação, pela qual funcionárias terão flexibilidade de ir para casa, se for necessário, e compensar depois as horas não trabalhadas –ou mesmo trabalhar de casa.
“Não fixaremos um número de dias remunerados ao mês porque não queremos associar isso a uma doença. As mulheres precisam de apoio para valorizar seu ciclo, e não se culpar por ele”, afirmou à Folha Bex Baxter, diretora da Coexist, que administra um espaço cultural na cidade.
Baxter disse esperar que a iniciativa, considerada inédita no mercado britânico, chame a atenção de empresas maiores –a Coexist tem apenas 24 empregados, dos quais 15 são mulheres. “Cada companhia tem de analisar o que é melhor, mas o importante é levantarmos a questão.” Ela mesma diz que sofria de dores terríveis, mas esse período diminuiu bastante desde que passou a flexibilizar sua jornada. “Agora passo um dia trabalhando de casa em vez de três debilitada, sem produzir.”
Um dos principais defensores da licenças, o ginecologista britânico Gedis Grudzinskas afirma que grandes corporações teriam até mais facilidade para aplicar a medida. “Não existe sincronia menstrual, ou seja, ninguém ficaria sem todas as suas funcionárias por um período determinado.”
A única grande empresa ocidental que se sabe que adota licença-menstruação remunerada é a Nike. A prática foi implementada em 2007 e se criou um memorando de entendimento para que seus parceiros comerciais também fizessem o mesmo em todos os países onde a empresa atua.
Preconceito
O Brasil não possui legislação sobre a questão nem se sabe de companhias que adotem formalmente a prática por conta própria. Em janeiro, um boato circulou pela internet segundo o qual havia sido aprovada uma lei que permitia às mulheres três dias de descanso em casa por mês.
O direito à licença-menstruação existe há décadas em vários países asiáticos, mas esbarra no medo que as mulheres têm de serem discriminadas caso o utilizem. O Japão foi o primeiro a introduzir a prática, em 1947, em meio à necessidade de atrair mão de obra feminina no combalido mercado pós-Segunda Guerra. A lei diz que cabe às empresas decidir o período da licença e se será remunerada. Na prática, porém, quase nenhuma mulher deixa de trabalhar por cólica menstrual. Na China, três províncias já adotam a licença –a última, Anhui, desde 1º de março. Nas redes sociais locais, a reação das mulheres foi de ceticismo sobre como isso será encarado por patrões, quase sempre homens. “Parece que protege nossos direitos, mas no fim vai fazer as coisas piorarem”, escreveu @Woshiyamiedie.
Crédito da imagem: Divulgação/Coexist