Grávidas e tentantes talvez sejam o grupo mais alarmado pelo aumento de infectados pelo vírus zika. O Minstério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) já confirmaram que a infecção causada por este microorganismo está mesmo relacionada aos casos de microcefalia e e também a outras síndromes neurológicas como a de Guillain-Barrém. O problema é que ainda se sabe muito pouco sobre como combater essa epidemia. É a primeira vez que o zika e a microcefalia aparecem interrelacionados, portanto não existem referências na literatura – nem para o diagnóstico, nem para o tratamento. “É uma epidemia com consequências gravíssimas. A última vez que o Brasil declarou estado de emergência nacional, como agora, foi em 1917, por causa da gripe espanhola”, declarou o Ministro da Saúde, Marcelo Castro. Além do combate ao mosquito, que por enquanto é a principal medida no combate à epidemia, o Minsitério da Saúde anunciou que os laboratórios do exército passarão a fabricar repelentes para gestantes, que serão distribuídos por todo o país. Mas ainda não há um prazo para isso aconteça. Para ajudar você, conversamos com especialistas para elaborar um tira-dúvidas sobre o assunto. Confira: O que é microcefalia e como é feito o dignóstico? Por definição, o que se chama de microcefalia é quando a cabeça tem um tamanho menor do que o esperado para a idade do bebê. Além dessa redução, a microcefalia pode também estar associada a outras características, como uma fronte mais achatada e excesso de pele na nuca. Quando é detectado, por meio do ultrassom, que a medida da cabeça do bebê não corresponde à idade gestacional, tem início toda uma investigação complementar para identificar a causa, com exames como ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, por meio dos quais é possível ver se há alterações inflamatórias, nos tecidos cerebrais ou hemorragias. E o que pode causar a microcefalia? A diminuição do tamanho da cabeça está diretamente relacionada a uma redução do tamanho do cérebro. Isso pode acontecer tanto por causa de uma má-formação proveniente de uma alteração genética ou por interferências no desenvolvimento cerebral, seja de substância tóxicas, seja de infecções. Vírus, como o da toxoplasmose, da herpes e também o citomegalovírus, podem levar a esses ruídos do desenvolvimento cerebral, tendo a microcefalia como consequência. Talvez, o zika também possa. Quais são as consequências da microcefalia? Depois do diagnóstico, alguma coisa pode ser feita? Essa diminuição do cérebro pode ter como resultado uma série de deficiências neurológicas, tanto cognitivas, como motoras. Cerca de 90% dos casos estão associados com retardo mental. A má notícia é que não é possível reverter a microcefalia. “Como ela é consequência de uma alteração no desenvolvimento cerebral, quando você identifica a microcefalia é porque o dano já aconteceu”, explica a obstetra Ana Elisa Baiõa, gerente da Área de Atenção Clínico-Cirúrgica à Gestante do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), do Rio de Janeiro (RJ). Por que o vírus zika teria relação com a microcefalia e o desenvolvimento do cérebro? Lembra que algumas coisas podem interferir no desenvolvimento cerebral, entre elas as infecções? Pois é aí que o vírus da zika entra. O Ministério da Saúde confirmou a relação entre o vírus e a microcefalia depois de receber o resultado de análises feitas pelo Instituto Evandro Chagas, de Bélem (PA). A presença do zika foi detectada em tecidos do corpo de um bebê que nasceu com microcefalia e outras malformações congênitas e faleceu em Fortaleza, no Ceará. Quais são os sintomas da zika? Eles são parecidos com os da dengue, mas geralmente se apresentam de forma mais branda. A pessoa afetada pode apresentar ou não: febre baixa, dores nas articulações, manchas vermelhas pelo corpo, olhos vermelhos e principalmente, muita coceira, o único sinal que destoa da dengue. Esses sintomas podem desaparecer em um prazo de 3 a 7 dias. Vale lembrar que a doença se manifesta da mesma forma tanto para mulheres grávidas quanto para não grávidas. Outro ponto importante é que é possível contrair o vírus e não apresentar nenhum sintoma. Em exames realizados com grávidas cujos bebês foram diagnosticados com microcefalia, o vírus não estava presente no sangue: ele foi encontrado apenas nolíquido amniótico. Isso pode sinalizar duas coisas: a primeira é que, assim como acontece com outros vírus, o zika pode ser destruído pelo organismo. A segunda sugere que o vírus pode, sim, afetar diretamente o bebê ainda dentro do útero. “Ao contrário do que acontece com o vírus da dengue, o zika consegue passar pela barreira placentária, que é formada por vasos da mãe e do bebê”, explica o infectologista Jean Gorinchteyn, do Emílio Ribas (SP). Ou seja, apesar de os sintomas da zika serem mais brandos que os da dengue, ele pode afetar mais diretamente o bebê. “Na mulher grávida, a dengue provoca alterações na mãe, mas não atua diretamente no filho – tanto é que mães com dengue podem continuar amamentando”, completa o infectologista. Como há indícios de que o zika também pode estar presente no leite materno, caso a mãe que estiver amamentando apresente algum sintoma, é recomendado interromper a amamentação e procurar um médico. Como acontece essa transmissão? A transmissão do zika se dá através da picada do mosquito Aedes aegypti, da mesma forma que acontece com a dengue. O problema é que o vírus da zika nunca se propagou em um país tão populoso como o Brasil. Os casos endêmicos estavam concentrados em lugares mais isolados na África e no sudeste da Ásia, e os especialistas acreditam que o vírus pode ter chegado por aqui durante a Copa do Mundo. Se uma pessoa infectada com zika for picada pelo mosquito, este passará a transmitir a doença para as próximas pessoas que picar. É por isso que existe chance de a doença se espalhar por outras regiões do Brasil. Além disso, há indícios de que fluidos corporais, como o sêmen, o sangue e o próprio leite materno também possam propagar o vírus. “Em 2008 foi detectado no Senegal partículas virais do zika em uma mostra de sêmen”, conta Gorinchteyn. Sendo assim, o zika poderia ser transmitido também por via sexual. “Outra preocupação seria o período de perpretação do vírus. Sabemos que, no caso do ebola, o micro-organismo pode ser transmitido pelo sêmen durante 9 meses”, completa. Como as grávidas podem se proteger? Ainda não há vacina contra o zica. Mulheres grávidas e não grávidas podem se proteger do mosquito da mesma forma: utilizando roupas para proteger a pele, evitando a picada e aplicando repelente nas áreas que ficam expostas. Roupas claras ofuscam a presença do mosquito, por brilharem muito, e favorecem a visualização do inseto. Ao que tudo indica, a melhor saída até agora é combater os focos do mosquito.Por precaução, se seu parceiro apresentar algum sintomas, não dispense o uso de preservativos nas relações sexuais. Que tipos de repelentes as grávidas podem usar? Repelentes que contêm DEET (dietiltoluamida), com concentração entre 10% e 50%, podem ser utilizados por grávidas. Já as crianças de 6 meses a 12 anos não devem usar repelentes com concentração de DEET superior a 10%. Os que contêm ircaridina também estão liberados para gestantes e para bebês acima de 2 anos. Também há opções de repelentes naturais, como a citronela e a andiroba, que não têm contraindicações, mas não possuem eficácia comprovada. E as mulheres que estão tentando engravidar… é melhor desistir dos planos por enquanto? “As mulheres que vivem em áreas endêmicas devem hesitar em engravidar nesse momento até que as medidas sejam tomadas no sentido de reduzir o número de mosquitos. Já as mulheres grávidas nessas áreas devem tomar as providências para se protegerem ao máximo da picada do mosquito”, recomenda Gorinchteyn. Por cautela, pelo menos por enquanto, também é melhor que as grávidas que estejam com passagens marcadas para áreas endêmicas desmarquem a viagem. Fonte: Revista Crescer Foto: FreeImages
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