Em março de 2017, a atriz Gwyneth Paltrow foi manchete de muitos jornais e sites dos Estados Unidos. O motivo? A publicação de um texto sobre sexo anal em seu site Goop — uma espécie de blog no qual a gata, geralmente, coloca temas relacionados ao seu estilo de vida.
Apesar de as afirmações iniciais no artigo terem chamado atenção, a matéria, na verdade, traz uma entrevista com um renomado especialista em sexualidade — o psicanalista e pesquisador americano Paul Joannides. Ele alerta sobre a prática do sexo anal seguro, já que as chances de contrair o vírus HIV são 17 vezes maiores em relação ao vaginal, e apresenta uma visão real do ato sexual. Afinal, é bem diferente do que acontece nos filmes pornôs. A mulher precisa aprender a relaxar o esfíncter anal para não ter dor (e isso pode levar um tempo e algumas tentativas!) e usar bastante lubrificante. Além disso, o sexo anal não é praticado na mesma frequência que o vaginal. Ele acontece numa proporção de uma para cada cinco ou dez penetrações na vagina. Saiba mais:
Mas, na real, será que a maioria das mulheres deixou os tabus e os receios de lado para se entregar ao sexo anal? Os números indicam que a prática realmente virou padrão na vida sexual de boa parte de nós. Segundo dados de 2010 publicados no The Journal of Sexual Medicine, quatro entre dez mulheres americanas entre 20 e 24 anos diziam praticar o sexo anal.
No Brasil, também existe um crescimento gradativo, segundo a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo. “Hoje, um quarto das mulheres pratica o sexo anal”, revela a especialista, que coordenou a pesquisa Mosaico 2.0, em 2016, com apoio da Pfizer. O estudo contou com a participação de 3 mil pessoas entre 18 e 70 anos, sendo 49% mulheres. “Isso mostra que a mulher atual tem um repertório sexual mais diversificado”, afirma. Uma das maneiras pelas quais as mulheres têm tido mais contato com o assunto, além de ler a COSMO (claro!), são os novos filmes pornôs. “O assunto anda mais divulgado na internet e as pessoas têm mais acesso a todo tipo de informação”, diz a ginecologista, sexóloga e colunista da COSMO Carolina Ambrogini, de São Paulo. Não, não é só você que anda vendo o tema “sexo anal” pipocar nas conversas com as amigas. “Não é à toa que vários sites pornôs voltados para o público feminino trazem conteúdo sobre sexo anal, mas não da tradicional maneira masculina, e sim com história e uma sedução mais atrativa para as mulheres”, diz Carolina. Aliás, já que estamos falando de pornô: essa é uma ótima opção para apimentar suas fantasias.
COM MUITO PRAZER!
Para a maioria das mulheres, a primeira tentativa com o sexo anal não é a melhor das experiências. O medo da dor está no topo do ranking das causas. “Diferentemente da vagina, que se lubrifica e se ‘abre’ quando a mulher é estimulada, o ânus pode ainda se comprimir por causa do medo e da tensão. Mas também se adapta ao pênis”, diz a sexóloga Eliany Mariussi, de Maringá (PR). A dor, na verdade, vem muito mais do medo.
Claro que isso não quer dizer que você tenha que suportar calada e seguir em frente. Incomodou? Doeu? Peça para o cara parar, sim! Afinal, tem que ser gostoso. “Mesmo assim, algumas mulheres conseguem chegar ao orgasmo já de primeira”, afirma Eliany. Sim, é possível ter prazer anal, como já disse a cantora Sandy! “A região perianal é uma grande zona erógena, com várias terminações nervosas muito prazerosas”, fala a ginecologista Carolina Ambrogini. Você pode experimentar deitada de lado ou de bruços com um travesseiro embaixo da pélvis, caso a posição de quatro a deixe acanhada. E começar com a penetração do dedo para seu corpo se acostumar à novidade (veja mais no box “Vai dar certo”). “As mulheres estão buscando mais prazer de uma maneira geral. E isso inclui o sexo anal”, diz Eliany. Uma boa notícia, não é mesmo?
Felizardas que já são adeptas dessa forma de prazer
Delírios desde a primeira vez
“Aos 19 anos, quis experimentar o sexo anal, pois já tinha conversado com amigas, visto filmes… Então, sugeri para meu namorado na época. No início, fiquei um pouco constrangida e também senti um pouco de dor, mas, no decorrer da situação, acabei me soltando e senti prazer. Como ele já tinha experiência, acho que isso ajudou muito. Percebi de cara que era preciso ficar relaxada e ter confiança nele para me deixar levar. Como ele soube conduzir com carinho a situação e eu conhecia bem o meu corpo, tive orgasmo já na primeira vez. Hoje é algo tão natural na minha vida que pratico uma vez por semana com meu atual parceiro. Mas, antes, tem que ter preliminares, um toque, carinho, uma língua… Acho até mais prazeroso do que o sexo vaginal, pois me leva ao delírio.” Fernanda*, 29 anos, assistente administrativa, de Bauru (SP)
É gostoso porque eu quero!
“Tinha um grande receio de sentir dor com o sexo anal. Mas, aos 21 anos, tentei pela primeira vez com um antigo parceiro e confesso que não gostei. Não tive prazer nenhum! Ele tinha proposto algumas vezes. Mas, depois de um tempo, essas ‘sugestões’ ficaram frequentes e viraram quase uma cobrança. Então, acabei aceitando. Além de eu fazer apenas para agradá-lo, a situação foi pior porque éramos inexperientes. Foram duas tentativas — e acabei desencanando. Não era o momento certo. Um ano depois, com meu atual parceiro, tentei novamente e deu certo! Fiquei confortável e cheguei ao orgasmo. Entendi que o sexo anal seria bom apenas quando eu realmente estivesse a fim de praticá-lo e que eu poderia ter muito prazer. A partir daí, meu conceito mudou bastante. Tanto que hoje sou eu quem sugere para ele.” Nátaly Garcia, 25 anos, coreógrafa cerimonial e professora de chair dance, de São Paulo (SP)
Mais tesão
“Minha primeira experiência com sexo anal rolou quando eu tinha 24 anos. Já namorava havia três anos quando ele sugeriu que tentássemos. Até então, eu não tinha curiosidade em relação a isso, mas topei por acreditar que é bom experimentar coisas novas. Nunca tive medo, mas nasci em uma família católica, o que carrega muitos dogmas. No entanto, por eu ser bióloga e conhecer meu corpo, acreditava que seria possível sentir prazer pelo ânus. E também acho que sexo é algo que deve ficar longe de religião. Tentamos muitas vezes, mas não conseguimos penetração total. Apesar de rolar muito tesão, eu sentia dor e acabava pedindo para parar. Mas, com o tempo, fui me redescobrindo, me conhecendo e tendo prazer. Consegui ter meu primeiro orgasmo após umas dez tentativas. Vi que não era um bicho de sete cabeças e, a partir daí, algo despertou em mim. Tenho muito mais tesão agora do que antes e mais fantasias sobre isso. Hoje o sexo anal rola, em média, uma vez no mês, mas não é planejado. Simplesmente acontece. A sugestão parte tanto dele quanto de mim. É algo natural e que ajuda a manter o nível de tesão alto na relação.” Ana Paula*, 35 anos, bióloga, de Santo André (SP)
Vai dar certo
Dicas para ter prazer no sexo anal
1. Faça se estiver a fim
Nada de aceitar apenas para agradar o gato, nem atender aos insistentes pedidos dele. Para ser bom para os dois, é preciso que ambos estejam na mesma página.
2. Precisa confiar nele
Isso não é apenas para evitar que o boy saia comentando com os amigos. O gato precisa ser de confiança porque, se for preciso pedir para parar, ele o fará, principalmente na sua primeira vez.
3. Tenham muuuita paciência
“Ele precisa ter habilidade e calma para conduzir e deixar a mulher relaxada. Sexo anal é conquista”, afirma Eliany. E, por isso mesmo, é algo demorado, então não tenham pressa.
4. Preliminares, com certeza!
Beijos, sexo oral, língua, masturbação… Seja no sexo anal, seja no vaginal, a história é a mesma. Vale tudo isso para esquentar o clima e dar tesão a ponto de querer se entregar por completo.
5. Escolha uma posição
De lado, de bruços com um travesseiro sob sua pélvis, também na posição de quatro apoios… Escolha a maneira que te deixa mais confortável e relaxada para curtir o momento.
6. Primeiro, o dedo
Peça para ele introduzir o dedo ou um plug anal com muito lubrificante. A ideia não é retirar o dedo, mas parar a movimentação até seu corpo se adaptar. Vá alternando e sentindo o prazer.
7. Agora, a penetração
Incomodou, parou. Importante: o gato tem que usar camisinha e trocá-la se vocês resolverem optar pelo sexo vaginal. Para não correr o risco de transportar bactérias de um lado para o outro.
O artigo abaixo foi escrito por mim e originalmente publicado na coluna Ame seu Corpo da Revista Cosmopolitan Brasil.