Não há silêncio que não termine

   Queridas, me desculpem o sumiço. Estava obcecada com a leitura do livro de Ingrid Betancourt onde ela conta sobre seus quase 7 anos de cativeiro na selva da Colômbia. Desde Clarice, o ano passado, não ficava tão viciada em um livro. Juro que chegei ao ponto de levar o livro para o banheiro para ler enquanto esperava a água do banho esquentar…Livro bom é assim mesmo.
   E agora que terminei de lê-lo, estou com aquele sentimento de vazio. Uma sensação de saudade de Ingrid, que por quase 600 páginas me foi tão íntima. Já revirei a internet e os vídeos do Youtube para ter um pouquinho mais dela e principalmente, me emocionar com a sua libertação.
   Antes de uma amiga me indicar, não havia tido interesse de ler o livro. Pensava eu tratar-se de algo com conotação política e até um pouco sensacionalista da coitadinha da Ingrid. Pra quê ficar lendo sobre tortura, desgraças e sofrimento alheio?
   Ledo engano. Ingrid fala sim sobre todo seu calvário, com detalhes. No entanto, o livro é muito mais sobre força, coragem e esperança. Não, ela não foi uma heroína que se manteve sempre resistente e forte diante das inúmeras adversidades. Foi humana. Fraquejou, caiu inúmeras vezes. Quis morrer, quase enlouqueceu. No entanto, desenvolveu recursos internos para manter-se viva e sã. Foi testada para além de seus limites e descobriu uma força interna surpreendente.
   Tiram-lhe tudo. Liberdade, conforto, dignidade. Ficou 7 anos sem ver seus filhos e familiares. Teve malária, hepatite. Negaram-lhe tratamento. Dormia sobre uma tábua ou em redes. Fazia suas necessidades no mato, tomava banho em rios de piranhas, quando permitiam. Meu Deus, e os insetos! Só isto já me faria querer morrer. Foi acorrentada pelo pescoço e presa a uma árvore, como um animal. Mesmo assim sobreviveu.
   Algumas coisas lhe foram vitais:a amizade com alguns reféns,trabalhos manuais, exercícios físicos, a bíblia,um dicionário, um rádio onde ouvia todos os dias mensagens de sua mãe e os inúmeros planejamentos de fugas. Sim, ela teve a coragem de fugir por quatro vezes. Na selva, à noite. Sem saber direções, sem ter o que comer. Em uma das fugas, fabricou bóias e se jogou no rio (aquele das piranhas), para não deixar rastros. Desespero? Sim, mas também uma determinação feroz. Infelizmente, foi capturada em todas as tentativas, sofrendo represálias horríveis. Mas não deixava se abater. Sublimava.
   Querida Ingrid, você me transformou. Me mostrou o que realmente importa. Foi ao inferno e voltou com a essência da vida e foi generosa ao dividí-la conosco. Obrigada.
   Quando você voltar ao Brasil, faço questão que autografe meu livro que ficará guardado no lugar da minha estante destinado aos mais queridos, aos indispensáveis (já falei sobre isto aqui)!