Eu sempre soube, desde menina, que estava diante de uma pessoa muito especial. Não, não era só porque ela era minha mãe e todas as mães do mundo são especiais para os filhos.
Minha mãe é quase unanimidade. Todos gostam dela. Podem perguntar por aí, Dona Lúcia é sempre lembrada com muito carinho.
Talvez porque seja uma pessoa “desarmada”, que primeiro aposta no lado bom das pessoas e que sempre, num primeiro momento, oferece o seu lado bom. Com simpatia, puxa conversa, distribui sorrisos, convida para um cafézinho com pão de queijo. Do porteiro ao presidente da empresa. É assim despachada, sem formalidades.
Ingênua aos 60 anos? Com certeza, não. Já levou muitas rasteiras da vida, mas nunca deixou de acreditar, que sim, é possível ser feliz. E se comprometeu fortemente com esta verdade.
Desafiou o pai linha-dura para se casar com um ex-preso político (meu pai) e teve a coragem de se descasar quando já não era mais feliz. Refez sua vida várias vezes, mudou de profissão, de cidade. Sempre buscou caminhos, alguns árduos, com uma força de batalhadora. Dificilmente ela desiste. É típica ariana, teimosa.
Mas, mãe, de todos os seus papéis, o da maternidade é de longe o mais bonito. Sua obra-prima nesta vida.
Para mim, você é uma mãe irretocável.
Muito mais do que passar valores, cuidar, amparar, financiar, você me deu a base para que eu desvendasse os meus próprios caminhos.
Me disse: “vai, filha”. E eu fui, mãe, segura de mim mesma.
Você sabe, hoje sou capaz de rodar este mundo sozinha, porque você me fez independente.
Sei ganhar meu sustento, como você disse que era importante.
Sigo minha intuição, porque você me fez olhar pra dentro, para me conhecer.
Me sinto forte, até mesmo para errar, porque me espelho na sua força.
Consigo perceber a fragilidade das coisas e a perenidade delas porque a sua vida deu mil voltas e você está aí, sempre pronta para mais um tango.
Se tudo está ruim, um baile é o suficiente para levantar o astral, você diz.
Querida, sei que a nossa relação vai além da de mãe e filha. É de outra dimensão. Nem precisamos nos falar, uma “sente” a outra.
Que você tenha muitas danças pela vida ainda, que um amor verdadeiro ainda apareça (você não deu muita sorte, né?), que tenha muita saúde e paz.
Que você continue generosa, acreditando no ser humano.
Desejo também, um descanso merecido, para que você consiga ter mais tempo para você mesma (adora falar que é muito ocupada, que não tem tempo pra nada…). Mas descanso aqui, tá? Lembra, você me prometeu viver até os cem anos!
Ah, e muitos negócios também, já que ficar quieta você não vai mesmo…
Feliz aniversário!
Sua Cacá.
Minha mãe Lúcia e Marina, minha filha. No meio de tantas, que povoam a minha vida, vocês duas são as mais importantes! |