A presença de uma disfunção sexual – como dor na penetração, vaginismo, dificuldade de orgasmo e falta de desejo sexual – atrapalha a vida das pessoas de forma marcante. Gera muito sofrimento, abala profundamente o amor por si e a relação com a parceria. É conviver com uma espécie de lacuna: algo que não é palpável, mas tira o brilho dos olhos e a sensação de a plenitude. Afirmo com a convicção de quem idealizou um ambulatório de sexualidade feminina no Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o Projeto Afrodite.
Ao longo desses 16 anos, nossa equipe multidisciplinar já atendeu gratuitamente cerca de mil mulheres com todo tipo de queixa sexual. São histórias de vida impressionantes, muitas das quais caracterizadas por violência, abuso, abandono. Testemunhamos pacientes com olhos tristes e sem esperança enquanto relatavam suas questões mais íntimas, ajudamos a secar rios de lágrimas e oferecemos novas possibilidades.
Sempre acreditei na importância do acolhimento e tratamento das disfunções sexuais com uma visão ampla – e humanizada, óbvio. Como o ambulatório está dentro de uma universidade, também visamos a pesquisa em sexualidade e o ensino de novas gerações médicas. Existem milhares de profissionais da medicina sem conhecimento adequado que atrasam e atrapalham (muitas vezes de formas bizarras) o tratamento das disfunções sexuais.
No Projeto Afrodite, todos os aspectos da sexualidade (social, biológico e emocional) são considerados de forma integrada por uma equipe preparada e apaixonada pelo que faz. Quando uma mulher chega para o primeiro atendimento, ela assiste a uma palestra informativa. Essa abordagem educativa é fundamental para derrubar tabus e mitos a respeito da sexualidade. Explicamos sobre a construção da sexualidade desde a infância, a anatomia dos genitais, o funcionamento do corpo diante de um estímulo sexual, as principais disfunções sexuais etc.
Depois a paciente é direcionada para consultas com profissionais da ginecologia, fisioterapia e psicologia. Então a equipe multidisciplinar se reúne para discutir cada caso e definir o melhor tratamento para aquela queixa sexual – por meio de remédios, exercícios de fisioterapia pélvica e dos grupos terapêuticos. Neles as mulheres com questões semelhantes se reconhecem e, sob a orientação de uma terapeuta, agem em conjunto para uma cura coletiva. Acreditamos muito no poder transformador do grupo: é muito lindo ver a força feminina surgindo e circulando entre elas com tamanha potência.
Em alguns atendimentos, também pedimos que a parceria amorosa da paciente venha às consultas para melhorar o diálogo e o entendimento da disfunção sexual (não raro o problema é das duas pessoas; encaminhamos parceiros homens com queixa sexual para o ambulatório de andrologia da UNIFESP). Enfim, a equipe do Projeto Afrodite trabalha unida para acolher a mulher sem julgamentos, ajudá-la a superar vergonhas e medos, mergulhar fundo no feminino em busca da sua força ancestral.
A energia da sexualidade, que está atrelada a essa força, é capaz de colocar sentido em vidas que só conhecem o desprazer. Estamos lá, segurando as mãos umas das outras, incentivando a mulher nesta incrível descoberta. Ainda que o processo necessite de coragem para remexer assuntos antigos, reviver traumas, sair da zona de conforto de relacionamentos insípidos… Nós provamos a centenas de mulheres que elas conseguiriam – e acreditamos que você também consegue.
Como agendar uma consulta no Projeto Afrodite? Como pertence ao Sistema Único de Saúde (SUS), os atendimentos do ambulatório são inteiramente gratuitos. Procure uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do estado de São Paulo e solicite o encaminhamento para o Projeto Afrodite via sistema CROSS. As demais vagas disponíveis geralmente são direcionadas a algum protocolo de pesquisa acadêmica. Siga a página @afroditeunifesp no Instagram para mais informações.