Sexo Após o Parto — Saiba Mais

O Sexo após o parto

O Sexo após o parto ou, em outras palavras,  a vida sexual depois da chegada dos filhos, é um tema que traz problemas para muitas mulheres. Já tive a chance de escrever uma publicação sobre este assunto em minha coluna para a Revista Crescer, que pode ser lida aqui.

Recentemente fui convidada pelo portal R7 para uma entrevista sobre o assunto, mais precisamente sobre sexo na gravidez e no pós-parto, após uma declaração da apresentadora Bela Gil  sobre a piora em sua vida sexual após a episiotomia.

Leia abaixo o texto completo da matéria para o R7.


Parto pode arruinar vida sexual? Veja o que os médicos têm a dizer

O depoimento em vídeo da apresentadora Bela Gil, que revelou que a episiotomia, corte entre a vagina e o ânus, realizada no parto da primeira filha, Flor, causou problemas em sua vida sexual durante um ano, traz à tona uma questão envolta em fantasias, mitos e medos: o sexo na gravidez e no pós-parto.

A gestação, não há como negar, é um período especial na vida da mulher. Por mais que muitas mulheres, hoje, tentem minimizar as alterações advindas com o gravidez, a realidade é implacável. Segundo Carolina Ambrogini, ginecologista da Unifesp, do Centro de Sexualidade Feminina, durante a gestação, o corpo passa por alterações hormonais que podem afetar o desejo sexual.

— A progesterona, que é o hormônio da gravidez, pode ser negativa para o desejo sexual. Mas há mulheres que, ao contrário, se aproveitam do aumento nos níveis de estrógeno, que eleva a lubrificação, facilita orgasmo e turbina a libido. É muito variável, sem falar nas questões emocionais. O corpo está mudando, ela pode se sentir voluptuosa ou se sentir gorda. Tanto pode favorecer como dificultar.

A psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Prosex (Projeto Sexualidade) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, também avalia que, de uma forma geral, a gravidez tende a tornar a mulher menos interessada em sexo, especialmente no primeiro trimestre, por conta das mudanças hormonais, no terceiro trimestre, por conta do desconforto, e o receio de que o sexo possa prejudicar a criança, o que é uma fantasia.

— Há outras que nunca se sentiram tão erotizadas, sexuais. Pode acontecer, especialmente por se sentirem acarinhadas pelo parceiro, o marido passa a ser mais carinhoso, isso pode mobilizar um interesse sexual pela proximidade afetiva desse parceiro. Temos que pensar que é variável.

Libído Feminina

A questão da libido feminina, no entanto, é apenas um viés da sexualidade dos “casais grávidos” ou no pós-parto. O médico José Carlos Riechelmann, ginecologista e sexologista, presidente do Departamento Científico de Sexualidade Humana da APM (Associação Paulista de Medicina), ressalta que há tanto os medos e crendices, como também as situações de fundamento médico.

Segundo o dr. Riechelmann, a princípio não existe, numa gravidez saudável, sem nenhuma complicação, fisiológica, saudável, motivo algum para se proibir ou colocar limite na penetração vaginal ou na vida sexual da mulher.

— O único senão é em relação sexo anal. Se for praticado, que não seja feito anal e vaginal no mesmo dia. Deve ter um intervalo, no mínimo, de um bom banho. Sexo vaginal após o sexo anal pode levar bactérias intestinais à vagina e pode criar uma complicação na gravidez, aumentando a chance de um parto prematuro.

Além disso, o sexo não é indicado nos casos em que a mulher já está em trabalho de parto prematuro (e será proibido por causa do exercício físico exigido pelo ato sexual) e para mulheres com ameaça de abortamento, ou seja, a grávida que está sangrando não deve fazer sexo, também pelo mesmo motivo. O ideal é fazer repouso e o exercício físico do sexo pode piorar o quadro.

— Fora isso, a postura médica é não se meter na vida sexual da paciente. Deixar ela transar quanto quiser.

Múltiplas minhocas na cabeça

Mas não é bem isso o que ocorre entre os casais. Há muitas crendices e fantasias em volta desse assunto. O ginecologista e sexologista José Carlos Riechelmann ressalta que o mito mais frequente é o de que a entrada do pênis na vagina vai prejudicar a gravidez, que o pênis vai entrar no útero e vai encostar no bebê. Atenção: é impossível isso acontecer anatomicamente.

— O colo do útero está fechado, tem uma passagem no diâmetro de uma carga de caneta, nenhum pênis tem a espessura da carga de caneta. O pênis não passa pelo colo do útero. Não existe isso de o pênis entrar onde o bebê está. Vamos supor que fosse um pênis enorme e conseguisse entrar. Bem… daria de cara com a bolsa d´água. Também existe a crendice de que pênis dentro da vagina pode provocar aborto ou perda da gravidez. É obvio que fazer sexo na gravidez não provoca aborto.

As fantasias que rondam a penetração na gestação beiram o absurdo. Há quem acredite que, se o bebê for mulher e o marido fizer sexo com o mulher grávida, ele vai engravidar a bebê (e a filha vai nascer grávida da neta). Nem o pênis consegue entrar onde o bebê está, muito menos penetrar o bebê e jamais um bebê ficaria grávido. Há homens que constroem uma fantasia que envolve o pênis entrando na vagina, de que a criança poderia ver a penetração, gerando constrangimentos, ou, pior, pensam que a criança vai morder o pênis. Essas crenças parecem loucura, mas não são incomuns nos relatos de consultório.

O que os homens pensam sobre o sexo na gravidez

Além do medo de provocar problemas no feto, muitos homens perdem o interesse erótico na mulher, às vezes por questões estéticas, outras, por dificuldades emocionais. Para muitos, ela não está com a forma interessante sexualmente para ele. Outro motivo de parar de despertar interesse erótico é que ele não vê mais a mulher como fêmea, vê como mãe. Ao enxergar a sua mulher grávida, eles passam a ter uma interpretação dessa imagem de forma imaculada (para a mãe grávida) e se asfastam das mulheres, como proteção a esse “incesto”.

Os homens que não sabem explicar o porquê, de uma hora pra outra, o interesse sexual sumiu, devem ser encorajados a conversar com um terapeuta. Há dificuldades emocionais envolvidas quando surge essa perda de interesse só de saber que a mulher engravidou. É um sintoma de que há uma patologia, e isso tem tratamento. A mulher não deve se sentir causadora dessa perda de interesse do homem, nem deve se sentir culpada, nem culpar a criança. Trata-se, certamente, de um processo emocional no marido.

Episiotomia

A pouca sexualidade no pós-parto

Segundo o depoimento de Bela Gil, a episiotomia arruinou a vida sexual dela por um ano. Ela, que teve o segundo filho, Nino, de forma natural, em casa, sem intervenções, alegou que muitos médicos fazem o procedimento de rotina e culpou o corte feito em seu primeiro parto pela dificuldade de fazer sexo no pós-parto.

De acordo com o doutor José Carlos Riechelmann, ginecologista e sexologista, uma parte das episotomias provoca de fato uma sequela física. A episiotomia costuma ser considerada uma cirurgia sem importância, simples e fácil, mas não é nem simples, nem fácil, nem sem importância.

— Pode haver sequela de três tipos: a técnica de fechamento não foi uma boa técnica; fechou a pele, mas não costurou o músculo que rompeu embaixo da pele, deixando a vagina larga. Pode ocorrer um neurinoma de amputação. Alguns nervos são cortados, quando cicatriza, produz um pequeno tumor, uma bolinha de tecido nervoso. Muitas mulheres ficam dor na região do corte por muitos meses. E o terceiro caso é a formação de uma endometriose na cicatriz. Mas há tratamento para todos os casos.

O que talvez Bela Gil não tenha considerado é que o pós-parto é, de fato, um período de pouca atividade sexual para as mulheres. A psicóloga Marina Simas de Lima, especializada em sexualidade humana, lembra que a chegada do filho tira o casal da relação a dois, principalmente se for o primeiro. Além disso, segundo a ginecologista Carolina Ambrogini, o pós-parto pode ser considerado a fase mais inibida da mulher, pior até do que a menopausa.

A questão hormonal

— Na grande maioria das episiotomias, isso não acontece. A cicatriz é pequena, não tem essa questão. O que existe é que a função hormonal da amamentação inibe a produção de testosterona, de estrogênio, deixa a mulher com menos libido. As mamas, que são grandes órgãos sexuais, estão com leite. O corpo realmente se transforma para que ela não transe. Não é para ela engravidar naquele momento, ela já está com um bebê pequeno, a natureza é sábia.

O dr. Riechelmann confirma que 90% das mulheres têm grande perda do interesse sexual no pós-parto. Há um desligamento total da libido, e isso está dentro do esperado. O aumento da prolactina, esse hormônio responsável pela fabricação do leite na mama, sobe muito depois do parto, para provocar a fabricação do leite, e desliga o interesse sexual da mulher.

— Com o passar do tempo, o próprio hormônio vai diminuindo, isso dura ao redor de seis meses. Algumas mulheres podem chegar até a um ano. Quando passa de seis meses com apetite sexual desligado é bom conversar com médico, de preferência que tenha formação em sexologia. Se passar de um ano, aí é bom pensar em um tratamento, não é mais uma coisa normal.

Sexualidade além da penetração

O dr. Alberto d’Auria, ginecologista e diretor médico da Cryopraxis, pondera, ainda, que a sexualidade não se resume à introdução do pênis na vagina. O estímulo sexual está inserido, mas também envolve união, carinho, preservação do casal e muitas outras coisas.

—  Por isso que fico na dúvida quando alguém diz que teve sua sexualidade arruinada por uma sutura na episiotomia. A episiotomia é um recurso que nós temos para preservar o cérebro do bebê e a musculatura da vagina. A sexualidade não está à mercê de um ponto vaginal.

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