Se a vida sexual sofre interferências com a pressão para engravidar (no caso dos “tentantes”) e durante a gravidez, é no período pós-parto que o casal geralmente encontra as maiores dificuldades. O corpo da pessoa gestante se volta para as necessidades do(a) bebê, se transformando em “terra seca” para o exercício da sexualidade. Não sentir desejo, vontade de transar ou se masturbar, é normal e temporário. E pode, sim, se estender para além da chamada quarentena ou resguardo.
Existem diversas razões fisiológicas e psicológicas para a diminuição da libido no puerpério. Em primeiro lugar, o nascimento da criança avisa o cérebro que aquela pessoa não deve engravidar novamente – é hora de cuidar e nutrir quem acabou de chegar ao mundo. Não à toa, o hormônio que proporciona a amamentação (prolactina) inibe a produção de estrogênio, responsável por deixar a vagina úmida e elástica.
Do ponto de vista médico, geralmente as relações sexuais com penetração são liberadas por obstetras em torno de 45 dias após o parto. Mas cada pessoa puérpera deve ser avaliada individualmente. Se a via de parto foi uma cesariana, é possível que ainda haja incômodo na região do abdômen por causa da cicatrização cirúrgica. Em caso de parto normal (vaginal), eventuais cicatrizes de lacerações naturais ou provocadas por episiotomia (corte no períneo) podem gerar desconforto no sexo – mas não devem sangrar!
Pessoas que amamentam costumam se queixar de ressecamento vaginal ou falta de lubrificação, o que pode levar à dor na penetração. Uma solução seria o uso de um lubrificante íntimo para ajudar e apimentar o momento, já que alguns produtos vêm com sabor e sensação de esquenta/esfria. Outras opções são hidratantes vaginais ou hormônios tópicos que não interferem na amamentação (requer prescrição médica). Também vale considerar o sexo sem penetração, afinal dá para ter muito prazer de outras formas.
Mas é fundamental dizer que a retomada da vida sexual após o parto ultrapassa as questões hormonais. O estranhamento com o próprio corpo, as mamas que pingam leite, as noites mal dormidas, o cansaço, a simbiose com o(a) bebê, as inseguranças relativas ao cuidado dele(a), os novos conflitos entre o casal, menos tempo para si e para a parceria… tudo isso colabora para a baixa libido no puerpério e, consequentemente, dificuldade de se excitar e lubrificar e chegar ao orgasmo.
A reaproximação sexual do casal deve ser gradativa e respeitar os limites de cada pessoa, ao invés de ser pautada por regras, prazos e pressões. É importante conversar sobre o assunto de forma leve, sem cobranças que atrapalhem (ainda mais) o clima. Nesta fase da vida, o sexo depende muito de uma reorganização da rotina e da disponibilidade mútua para criar um espaço de intimidade erótica. Não espere por um tesão espontâneo como no início do namoro…
Talvez um vale night (ou vale algumas horinhas) proporcionado pela rede de apoio? Ou assistir a uma série mais picante juntos depois que a criança dormir? A vontade de transar terá mais chances de surgir a partir de momentos em que o casal conseguir se curtir e conectar sem as conversas monotemáticas sobre o(a) filho(a). É natural que o relacionamento passe por um desequilíbrio com a chegada de uma criança, mas também é possível que – com paciência e resiliência – ele se ressignifique e saia fortalecido desse período.