Sonho de consumo: ter uma biblioteca

   Pode parecer estranho, em meio a tantas coisas maravilhosas para se consumir, eu sonhar com uma biblioteca ao invés de um closet, por exemplo.
   Só poderá me entender quem tiver uma relação muito íntima com os livros. Apreço por eles, uma ligação quase afetiva.
   Sou assim. Não é compulsão, mas emendo um livro no outro desde a juventude. Consigo até ficar alguns períodos sem ler, mas sinto a vida mais interessante com um livro do lado. Já fui de ler de tudo. Antigamente, pegava qualquer coisa, lia até a vigésima página, se fosse interessante ou até mais-ou-menos, continuava. Hoje não. Estou menos paciente com livro ruim. Se é de autor conhecido ou de algum querido do coração, compro sem nem ler a orelha, mas se for algum desconhecido, leio a orelha, procuro informação na internet, peço referência. Com a idade, fiquei mais exigente.
   Resultado deste hobby: um armário abarrotado de livros. Sim, porque aquele livro que me toca, que me ensina, não tenho coragem de doar. Os apenas medianos ou simplesmente interessantes vão para biblioteca do clube. Tem livro que é tão bom, que sinto até uma tristeza quando está acabando. Este vai pra minha coleção. Mesmo que eu não o releia (raramente releio) nunca mais, gosto de saber que está ali guardado. Posso querer folheá-lo como quem faz um carinho num velho amigo. Alguns guardo para mais na frente, apresentá-los aos meus pequenos. E, por favor, não me peça um livro emprestado. Sou ciumenta, já perdi vários livros do coração assim.
   Engraçado, para cada fase importante da minha vida, lembro do livro que estava lendo. E, por muitas vezes, confundo um fato real com um lido, ou lembro de alguma passagem de livro de acordo com alguma situação da vida real. Com meus livros, já fui à todos os continentes do planeta, já conheci povos distantes, guerras, palácios, já voltei no tempo, já fui ao futuro…
   Entenderam porque almejo uma biblioteca? Não, não quero escritório. Este eu já tenho e não sinto a menor vontade de ler lá. Quero um lugar calmo, sem computador, aconchegante. Com uma poltrona confortável, iluminada por um foco de luz amarela e uma mesinha de apoio do lado, para acomodar uma xícara de cappuccino. E numa estante, ficariam todos lá, expostos, os meus queridos. Protegidos do pó por um vidro, mas ao alcance do olhar.
   Num sonho completo, este cômodo poderia ser numa casa de campo ou na praia, para que eu pudesse admirar a vista entre uma folha e outra. Ah, e com isolamento acústico, desta forma, o mundo real ficaria lá fora dando lugar à imaginação e a todos os sentimentos e lições que um bom livro traz.
  Quem sabe um dia…
Bjs e Bom Domingo