TPM: o que fazer para sofrer menos

TPM: o que fazer para sofrer menos

Irritação, ansiedade, dores no corpo, cólicas… estamos em 2018 e ninguém inventou uma forma de acabarmos com esses dias infernais

Os desconfortos da TPM, a tensão pré-menstrual, ainda bagunçam a vida de muitas mulheres. Clinicamente, atingem mais de 80% delas. Ou seja, a grande maioria de nós sente algum incômodo nos dias que antecedem e durante a menstruação em diferentes aspectos.

“São mais de 80 sintomas reportados, como cefaleia, inchaço, dores nas mamas, dificuldade para evacuar… Mas para classificar como TPM é preciso que existam os sintomas emocionais, como irritação ou estado depressivo intensos”, afirma a ginecologista e obstetra da Universidade Federal de São Paulo Carolina Ambrogini, colunista da COSMO.

Por isso mesmo é tão difícil dar uma receita “infalível” para amenizar desconfortos. Um universo de situações é possível, e tudo pode variar conforme a saúde de cada uma.

E ainda tem gente (homens e, pasme, outras de nós) que, ao ver uma mulher sofrer e reclamar do que sente nesse período, acha que é exagero ou frescura. Pois está longe de ser. Não é para a gerente comercial Ana Soares, 36 anos, de São Paulo, que já precisou sentar na rua sozinha e esperar passar as dores que a impediam de andar no primeiro dia da menstruação.

Nem para a professora de inglês Janaína Félix, 39 anos, de Londrina (PR), que fica com o humor à flor da pele ou totalmente apática. Menos ainda para a artista plástica brasiliense Bárbara Leal, 35 anos, que teve problemas de amnésia, quase terminou um relacionamento porque perdia o controle e ficava extremamente irritada por qualquer motivo – agora ela está fazendo um tratamento que combina ingredientes naturais e antidepressivos.

TDPM. Conhece?

Casos como o de Bárbara se encaixam nas entre 3 e 8% das mulheres que sofrem de quadros ainda mais graves e de ordem psíquica, de acordo com dados do Projeto Diretrizes do Conselho Federal de Medicina e da Associação Médica Brasileira. É o TDPM – transtorno disfórmico pré-menstrual, cujo tratamento inclui antidepressivos. Alerta: se nos últimos três meses, nas semanas que antecedem a menstruação, você notou os sintomas se agravarem e eles estão trazendo prejuízos para o seu trabalho, os relacionamentos, os estudos ou as atividades do dia a dia, é o caso de procurar um médico.

Não existe cura ou solução definitiva para TPM nem para TPDM – eles ocorrem porque o corpo feminino passa por alterações hormonais que são naturais para permitir a reprodução, mas que nem sempre combinam com todo o resto da vida que temos ou que escolhemos: de sermos ativas todos os dias ou mesmo de não querermos usar o potencial reprodutivo (no momento ou nunca).

O que funciona é buscar um meio de entrar na melhor harmonia possível com o nosso corpo, e isso passa por algumas etapas. A primeira é reconhecer e aceitar que a TPM não é frescura. “Se existe maior sofrimento nessa fase, o que a mulher precisa é ser cuidada da melhor forma possível, não rotulada”, diz a ginecologista e obstetra Luiza Cadioli, do Coletivo Feminista de Saúde e Sexualidade, em São Paulo. A segunda é se informar sobre tudo o que pode ajudar no seu caso. O terceiro é escolher e testar as alternativas de tratamento. Selecionamos algumas delas a seguir.

Hormônios

Nos últimos anos, a discussão sobre uso, benefícios e malefícios das pílulas e outros métodos que utilizem hormônios está envolvendo um bom número de mulheres. E muitas decidiram largá-los ou não usá-los. É um assunto comum na ala feminina e há diversos grupos virtuais que discutem o tema. Um deles, no Facebook, chamado “Vítimas de anticoncepcionais: unidas pela vida”, tinha mais de 152 mil curtidas no início de janeiro de 2018. Mas os especialistas pedem cautela antes de achar que é a salvação.

“É importante não demonizar os tratamentos hormonais. Eles têm, como qualquer medicamento, inclusive os homeopáticos e fitoterápicos, contraindicações e efeitos colaterais. Mas também são uma boa solução para muitas mulheres, principalmente as que sofrem com o aumento e a diminuição do estrogênio e da progesterona durante o ciclo”, afirma Carolina Ambrogini.

“Os hormônios são muito importantes quando os sintomas que prevalecem são os físicos, tais como cólica, dor de cabeça, inchaço, dores nas pernas, no abdômen ou nas mamas”, diz a ginecologista Mara Diegoli, de São Paulo, autora dos livros Vencendo a TPM (Pioneira) e A Mulher e os 7 Grandes Desafios (Bartira). Converse com os médicos que a acompanham; eles devem analisar como um todo as reações físicas, psicológicas e seu estilo de vida e histórico familiar para saber se e qual hormônio é uma boa alternativa.

Exercícios físicos

Dá preguiça, especialmente nesses dias, mas os exercícios são uma das poucas unanimidades recomendadas para diminuir os efeitos da TPM. Eles ajudam a liberar endorfina e controlar a serotonina, dois dos hormônios ligados ao bem-estar. Quem tem maior sensibilidade ao desequilíbrio da serotonina está mais sujeito a ter instabilidade emocional – que aparece em forma de irritabilidade, sentimento de tristeza ou mesmo depressão.

A maioria das mulheres mora hoje em grandes cidades, se desloca em automóveis ou transporte público e está em apartamentos com elevador. Então, mexer o corpo precisa ser uma tarefa na agenda! As atividades aeróbicas, como as que envolvem andar, correr, nadar, pedalar ou dançar, são as mais indicadas, pois liberam endorfina.

“É a substância relacionada ao bem-estar e a que costuma fazer falta durante a TPM”, diz Carolina Ambrogini. Para Mara Diegoli, a ioga é uma boa opção também para um equilíbrio entre mente e corpo. Mas a dica principal é você escolher uma atividade da qual goste para que ela se transforme em um hábito gostoso.

Para os dias de cólica, que embora não esteja relacionada à TPM também traz incômodo intenso, alguns exercícios de pilates podem ajudar – e muito. “Os movimentos que mexem com a região abdominal, o quadril e o assoalho pélvico, como rolling back, em que o corpo é enrolado para trás, ou o criss cross, um abdominal com movimento cruzado de pernas e braços, ajudam bastante”, diz a fisioterapeuta especialista em pilates Gabriela Fendi, de São Paulo. Para os inchaços da TPM, ela recomenda séries em que os membros inferiores ficam elevados, e, para a dor de cabeça, todo o alongamento da coluna vertebral.

Medicamentos controlados

Algumas mulheres que têm alterações de humor e psíquicas mais intensas durante o período pré-menstrual (seja por TPM severa, seja por TDPM) podem discutir com o médico o uso combinado de antidepressivos – de maneira contínua ou intermitente. “Para quem esses sintomas atrapalham o dia a dia, na vida pessoal ou na saúde física, o uso de medicamentos e de métodos contraceptivos de longa duração, como DIU hormonal e implante, têm trazido mais benefícios que malefícios”, diz Carolina Ambrogini.

Homeopatia e fitoterápicos

Para quem quer alternativas à alopatia e aos hormônios, existem, sim, possibilidades. Em alguns países, estuda-se o uso da maconha como analgésico, mas isso é distante e proibido no Brasil. Na Alemanha, as mulheres são acostumadas a tomar um “chá feminino”, que contém ervas como alquemila, urtiga, broto de aveia e gengibre, com propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e diuréticas. As ervas não são simples de ser encontradas no Brasil, mas é sempre recomendado consultar um farmacêutico para avaliar possíveis contraindicações.

“Muitas podem fazer mal se ingeridas em quantidades inadequadas ou para determinadas pessoas, como a urtiga, que não deve ser tomada por quem tem problemas cardíacos”, afirma o farmacêutico Jamar Tejada, da Tejar Homeopatia, em São Paulo, especialista em homeopatia e fitoterápicos.

A proposta de um tratamento homeopático é ver o indivíduo como um todo para propor uma fórmula de tratamento, mas que também pode falhar por superdosagem ou erro no diagnóstico.

“Nem tudo que é natural faz bem, é preciso ser bem indicado. Há muitas substâncias que trazem bons resultados, como os fitoterápicos 5HTP, derivados da Griffonia simplicifolia, que ajudam a normalizar a serotonina, ou o ginseng e a ashawagandha, que atuam na resistência do organismo e na proteção contra o stress”, diz Jamar.

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