Vagina não cheira flores do campo – nem deveria! Em condições normais, seu odor natural é bastante característico: leve e um pouco adocicado. Quando a região íntima passa a exalar algum mau cheiro, é preciso investigar as causas do problema para escolher o tratamento adequado. Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, nem sempre existe relação com falta de higiene (aliás, pode ser até excesso). Portanto não há motivo para vergonha.
O odor da vagina, ao contrário da secreção vaginal, não é influenciado pelas oscilações hormonais do ciclo menstrual. Ele sofre o impacto de alterações na flora vaginal, que é composta por uma gama de microrganismos, como diversas bactérias (sendo os lactobacilos o tipo mais comum) e alguns fungos (por exemplo, a famosa cândida, que pode levar à candidíase). Quando estão em equilíbrio, todos convivem tranquilamente no organismo, sem prejuízo à pessoa com vagina.
Mas às vezes o uso de antibióticos, alterações intestinais, falta de estrogênio e outras razões até desconhecidas reduzem a quantidade de lactobacilos. Com isso, as bactérias gardnerella e mobiluncus (também habitantes da flora vaginal) podem se multiplicar excessivamente e causar a chamada vaginose bacteriana. Essa infecção genital costuma provocar odor forte de peixe podre.
Além disso, a questão também está ligada ao pH vaginal, que é mais ácido. Durante a menstruação ou após a relação sexual com ejaculação, ele fica mais alcalino por causa do grau de acidez tanto do sangue quanto do sêmen. Assim pode haver maior proliferação das tais bactérias responsáveis pelo odor ruim. Da mesma forma, quem lava demais a vagina ou realiza duchas vaginais tem maior predisposição para esse tipo de infecção por alterar o equilíbrio natural da flora vaginal.
Se o diagnóstico para o mau cheiro for vaginose bacteriana, o tratamento geralmente envolve antibióticos por via oral e vaginal – sempre com prescrição médica. Em casos recorrentes, é importante cuidar da prevenção com cremes vaginais e até mesmo com lactobacilos. O uso de chás ou remédios caseiros como o bicarbonato de sódio não são recomendados e podem até piorar o problema.
Outra possível causa de odores desagradáveis na região íntima é a transpiração excessiva na virilha. Essa área do corpo tem glândulas produtoras de suor como as axilas. Por isso, principalmente no calor, é melhor evitar calças apertadas e tecidos grossos ou sintéticos que não absorvem a umidade. Desodorantes íntimos são uma alternativa para quem se incomoda muito, desde que aplicados na virilha e não na vagina.
Pelos pubianos não causam mau cheiro, mas podem favorecer o acúmulo de secreção vaginal e dificultar a limpeza da vulva. Você pode apará-los um pouco ou se dedicar mais na remoção durante o banho, como também do cáseo (secreção branca oleosa entre os grandes e os pequenos lábios que, em excesso, pode causar odor azedo).
Vale dizer que a higiene vaginal deve ser feita com sabonete neutro ou íntimo com pH adequado. Se a pessoa tem o hábito de tomar mais de um banho por dia, deve aplicar o sabonete na vulva apenas uma vez para não desregular a flora vaginal. Após as relações sexuais, por exemplo, também basta lavar com água. E sempre por fora do genital (vulva), nunca por dentro (canal vaginal).
Como eu disse, vagina não cheira flores… e está tudo bem! Precisamos naturalizar que vagina tem odor de vagina, ao invés de transformá-la com perfumes artificiais.