Sexo com hora marcada pode ser desanimador para muitos casais heterossexuais, ainda mais se houver a obrigação de acontecer em um determinando momento para não desperdiçar a chance de engravidar. Em meio a burocracias como tabelas de temperatura corporal, gráficos do dia fértil e testes de urina para detectar a ovulação… o desejo sexual é o último a ser lembrado. Aliás, as pessoas “tentantes” costumam ficar um tanto ansiosas e obsessivas quando o objetivo principal (senão exclusivo) do sexo é reproduzir – e essa pressão de “ter que dar certo” pode ser bastante intimidadora.
Quando um casal quer engravidar, a primeira recomendação é transar em dias intercalados (dia sim, dia não) durante a semana fértil. Nesta fase do mês, a pessoa com vagina teoricamente está ovulando. Mas a própria obrigação de ter relações… pode ser literalmente brochante. A situação piora quando a gravidez não vem após diversas tentativas e o casal inicia algum tratamento para infertilidade. Além de lidar com a frustração e a sensação de impotência, é preciso recorrer a aplicativos sobre ciclo menstrual, exames, medicações e “ordens” médicas.
Por exemplo: no coito programado ou na indução de ovulação por meio de medicamentos hormonais, ginecologistas obstetras monitoram o crescimento do óvulo para dizer a hora apropriada em que se deve ter a relação sexual. Sim, às vezes, a nossa prescrição para o casal é tão direta quanto “façam sexo amanhã de manhã, de preferências às 10h”. Infelizmente nem sempre a libido está disponível também…
Transar, de repente, se torna uma espécie de lição de casa em prol de um projeto de vida familiar. Em meu consultório, vejo com frequência como os tratamentos para engravidar podem gerar desgaste emocional e financeiro. São inúmeros exames (especialmente ultrassonografias em série) e alguns podem ser chatos, dolorosos ou constrangedores – caso do espermograma, em que o homem deve se masturbar no laboratório e ejacular em um potinho. E não existem garantias de sucesso (leia-se bebê a caminho).
É fundamental que o casal desenvolva intimidade sexual e seja capaz de levar o sexo agendado de forma lúdica e criativa, brincando com a situação para aliviar a tensão. Vocês podem ler um conto erótico antes para despertar a excitação, beijar bastante na boca, trocar massagens sensuais, usar estimuladores de mamilos e clitóris… “Sexo para engravidar” não precisa ser mecânico – tirar a roupa e abrir as pernas. Além disso, para que o casal permaneça unido neste momento difícil e cheio de expectativas, é essencial praticar também o “sexo por prazer” ao longo do mês.
Isso porque as pessoas “tentantes” tendem a ser tomadas por pensamentos negativos como: “Ela não me deseja em outras fases do ciclo menstrual? Sou um mero reprodutor?”; “Não sou mulher suficiente porque não consigo engravidar”; “Não sou viril o bastante para fazer filhos”. Então é comum que os conflitos apareçam e afastem o casal em um momento em que é de suma importância encontrar amparo na dificuldade de engravidar.
Caso apareçam problemas como disfunção erétil ou baixa de libido, o primeiro passo é sempre o diálogo. A comunicação do casal tentante é super importante, até para que os limites da outra pessoa sejam respeitados. Se a situação ficar crítica, vale buscar ajuda psicológica individual, de casal ou mesmo terapia sexual [nota da editora: entenda como funciona uma sessão]. Não à toa, muitas clínicas de fertilização oferecem este serviço: os tratamentos para a infertilidade costumam bagunçar não apenas os hormônios, mas também as emoções e o relacionamento amoroso.